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segunda-feira, 19 de julho de 2010

A Lenda do Primeiro Gaúcho - Século XVIII

          Um grupo de brasileiros atravessa as verdejantes campinas do Rio Grande do Sul. Impulsionados pela necessidade de braços para as lavouras, buscam o índio.
          Os índios minuanos, avisados pelas sentinelas da aproximação dos brancos, montam em seus cavalos e, armados de flechas e lanças, deixam seu acampamento e rumam para as áreas mais elevadas do relevo.
          Ao avistar os brasileiros se aproximando, os índios se escondem no dorso dos cavalos (dessa forma dificilmente seriam descobertos pelos inimigos).
           Imóveis, esperam eles o momento exato para atirar-se sobre os viajantes.
           Os brancos desconhecem a tática empregada pelos índios e, avistando à distância o bando de cavalos pastando, tomam essa direção.
           Assim que os brasileiros se aproximam, os índios despencam-se nos seus animais do cimo das coxilhas, em galopada, investindo contra os brancos com furiosa saraivada de flechas. Respondem estes com tiros de armas de fogo.
            Nova investida dos índios, agora se servindo das lanças, obriga os invasores a fugir em desordem.
            Caído por terra acha-se um moço ferido e, ao seu lado, uma jovem índia minuana Fascinara-a a coragem do estrangeiro.
            O brasileiro sabe da sorte que o espera e interroga a moça tentando saber quando será sacrificado. Ela responde-lhe esta que nada tema, pois estará a seu lado.
             O prisioneiro é então levado para o acampamento dos minuanos.
             Enquanto esperam que se cure da ferida para sacrificá-lo, dão-lhe toda liberdade sob vigilância das sentinelas.
             Para passar o tempo, o jovem branco resolve fazer uma viola.
             Com a pouca ferramenta de que dispõe, a muito custo, vai improvisando o rústico instrumento feito com árvores da própria serra.
              A índia já lhe tem muita amizade e está sempre ao seu lado nas horas de folga.
              Os dias vão-se passando e chega a hora do sacrifício.
              Amarrado a um tronco está o prisioneiro.
              Todos os índios da nação, reunidos em volta dele, dançam e cantam a sua morte.
              O chefe minuano então ordena que soltem o prisioneiro e tragam-no à sua presença.    Fitando o moço bem nos olhos, assim fala o cacique:
              -Que aos teus irmãos sirva de lição esta última derrota. Que não nos tornem a vir incomodar. Os que vierem nestes campos buscar escravos hão de ser esmagados pelas patas de nossos cavalos. E tu, pagarás com a morte a tua audácia e a dos teus! Em seguida, ordena ao condenado que faça o seu último pedido.
               O branco fica surpreso com tal gesto e, num relance, percebe como poderá livrar-se da morte. Sabendo da emotividade e a influência que exerce a música sobre aquelas criaturas, pede que lhe tragam sua viola para tocá-la pela última vez.
                A jovem índia atende seu pedido, debaixo dos olhares curiosos dos índios.
                Cheio de fé, o moço pega da viola e entoa uma canção. O rosto dos índios transforma-se como por encanto e eles começam a exclamar a todo instante:
                 - Gaú-che! Gaú-che!... o que significa: gente que canta triste.
                Sensibilizados pela doce cantiga do condenado os índios intercedem para que o sacrifício seja revogado.
                O pedido é atendido e o brasileiro passa a morar com os minuanos.
               Enamorado da jovem índia, casa-se com ela. e dessa bela união, do elemento branco com a indígena, resultou o tipo desse homem extraordinário que se chama gaúcho.
 
Fonte: Adaptado de LESSA, Barbosa. Antologia Ilustrada do Folclore Brasileiro.

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